terça-feira, 23 de dezembro de 2014

#1 Like the Moon - Parte 2

No aeroporto em Joanesburgo

Apesar de sairmos uma hora atrasados de São Paulo, chegamos em Joanesburgo cinco minutos antes do esperado. Eu estava distraída conversando com a Queen, então nem prestei atenção na aterrissagem. Só me dei conta quando o avião tocou o chão.

 Descemos do avião e eu apenas segui o fluxo de pessoas, pois não sabia para onde ir. Acho que me despedi da Queen umas três vezes antes de nos separarmos realmente HAHA. Eu estava muito entusiasmada, era ali que tudo começava de verdade. Quero dizer que as pessoas que eu veria dali em diante não iriam se preocupar sobre falar rápido demais ou não.

Fomos abordadas por um funcionário que conversou com a gente e nos orientou sobre onde ir e o que fazer. Eu tinha que me dirigir à imigração e depois pegar minhas bagagens - eu tive que pegar as bagagens em Joanesburgo e enviar para Cape Town depois. Queen e eu nos despedimos de verdade e então eu me encontrei sozinha.

Tive que pedir informação pra chegar até a imigração e ainda assim entrei na fila errada. Vi alguns brasileiros dirigindo-se para outra fila então eu os segui. Eu estava esperando muito por esse momento. Tinha ouvido falar sobre as questões que poderiam me fazer e não sei se lembram dos papeis que recebi na orientação pré-partida, mas eu estava esperando que me pedissem por eles. Na verdade eu tinha imaginado uma sala privada com alguns guardas, uma coisa bem intimidadora haha, mas era uma fila, com alguns guichês, onde em cada um havia um atendente.

Quando chegou a minha vez na fila, o moço pediu pra que eu tirasse meus óculos e então me direcionou pra um guichê. Lá eu dei meu passaporte e o fui questionada sobre algo que não entendi. Pra não passar em branco eu disse de onde eu era e pra onde eu tava indo. Não sei se ele ficou satisfeito, mas não me perguntou mais nada. Eu não lembro se ele perguntou quanto tempo eu ia ficar, se eu não estiver imaginando, ele me perguntou e eu respondi HAHA.

Depois disso, fui seguindo as placas até as esteiras pra pegar as malas. Peguei um carrinho e então comecei a seguir uma família de brasileiros. No meio do caminho resolvi ir até uma esteira e não era a de malas vindas de São Paulo, então eu comecei a procurar a esteira certa. Parei pra pedi informação. De novo o funcionário puxou assunto comigo e eu acho que fui mal educada e não agradeci porque ele fez uma brincadeira: "Então está tudo bem, você não precisa da minha ajuda?". Eu pensei ter dito obrigada, mas depois dele dizer isso, eu acho que tinha dito apenas "OK" quando ele me deu a informação, HAHAHA. Ficou pior ainda, porque pra responder a brincadeira dele, que eu só entendi depois, eu disse um outro "OK". Pra concertar as coisas, eu olhei para trás e mandei um joinha, dizendo obrigada, mas ele não viu.

Minhas malas demoraram um bocado pra chegar. Eu pensava que ficaria duas horas livre no aeroporto, pois chegaria as 7h55 e meu próximo voo seria só 09h10, mas isso quando eu não sabia o quanto demorava pra desembarcar e o quão antes eu tinha que me apresentar para o próximo check-in. Enquanto eu esperava, comecei a conversar com uma inglesa que estava no mesmo voo que eu. Ela já tinha puxado assunto comigo no avião. Eu não entendi a princípio mas no fim acabei entendendo - ela me ajudou com alguns gestos e palavras fáceis - que ela estava se referindo ao filme que eu tinha começado assistir, dizendo que tinha assistido também e chorado muito. Eu nem consegui assistir tal filme, pois o avião pousou pouco tempo depois que eu iniciei.

Conversando com ela, contei que era a primeira vez que eu estava falando inglês mesmo com falantes nativos da língua - eu já tinha falado com outros pelo Brasil, mas somente frases decoradas e curtas. Fiquei muito feliz quando ela me disse um "Really? You're amazing!"* Essa frase vai estar pra sempre no meu coração <3!

Quando minhas malas chegaram, fui direto para o check-in, pois já estava na hora. Chegando lá, eu pedi para a atendente pra sentar na janela, como a moça no Brasil tinha me orientado. Ela não respondeu nada, mas fez uma pergunta que eu não entendi (eles falam muuuito rápido). Ela teve que repetir umas três vezes e ainda assim eu não entendi. Falei "Brasil" pra arriscar, mas ela me corrigiu. Eu acho que ela tava perguntando se eu sabia pra onde eu tinha que ir, demorei muito tempo pra processar isso. Ela me mostrou com o dedo onde estava escrito no meu cartão de embarque a identificação do meu portão.

Seguindo o fluxo novamente, fui abordada por outro funcionário que me perguntou pra onde eu ia e me deu a orientação. Ele falou rápido e eu demorei menos tempo pra processar, mas ainda assim tive que repetir a frase em uma velocidade menor na minha mente. Ele me orientou também a seguir um grupo de pessoas.

Após eu ter dado uns 3 passos, um outro moço me abordou e começou a conversar comigo, me levando até o meu portão. Ele andava super rápido e eu não estava mais seguindo o grupo. No meio do caminho eu entendi ele dizendo que me levaria até o meu portão e pensei ter ouvido a palavra "dólar". Como eu não tinha certeza da última parte, disse "OK", considerando a primeira. Ouvi a mesma frase mais umas duas vezes, também dizendo "OK" e então minha ficha caiu: ele estava me cobrando pra me levar até o lugar.

Perguntei se ele estava me pedindo dinheiro e ele respondeu que não estava me pedindo "dinheiro", somente uma "gorjeta". Eu, sinceramente, respondi que não tinha trocado o dinheiro ainda e que de nota baixa só tinha reais. Pedi desculpas, inocentemente, porque achei mesmo que ele tinha sido gentil comigo. Ele disse que não tinha problema nenhum e continuou me levando. Quando chegamos, eu me desculpei novamente (sou dessas) e ele disse mais uma vez que estava tudo bem e que nos veríamos na volta (não sei se isso foi amigável ou ameaçador).

Mais uma vez tive que apresentar meu passaporte e passar minha mala pelo scanner. Após passar o portão, dois brasileiros vieram comentar comigo que alguém tentou tirar dinheiro deles, da mesma maneira que fizeram comigo, mas o moço que os abordou pedia diretamente 50 dólares e foi pego pela polícia na hora. Eu fiquei um pouco assustada, mas valeu para aprender. Como estávamos bem na hora, ficamos muito pouco na fila e já fomos para a rampa de embarque.

No avião

O segundo avião era bem mais simples. Enquanto o primeiro era espaçoso, com 8 assentos de janela a janela separados por dois corredores (2 - corredor - 4 - corredor - 2) e telas individuais, o segundo era apertado com apenas 6 assentos separados por apenas um corredor (3 - corredor - 3) e algumas telas na parte de cima, uma para cada 6 pessoas, mais ou menos. Ao checar meu assento, me dei conta de que a atendente não tinha alterado, não tinha alteração no cartão. Eu fiquei na poltrona do meio, a segunda mais próxima da janela de novo. O voo estava programado para 9h10 (5h10 no Brasil) e decolamos às 9h20. Passei mal de novo então tomei outro comprimido e fiquei com a cabeça encostada no assento.

Como o voo seria curto, logo serviram o lanche. A refeição foi bem mais simples também. Há de se considerar que o primeiro voo foi internacional e esse era doméstico. Eu não lembro a outra opção que tínhamos, mas eu escolhi um lanche de frango. Recebi um pão folhado recheado com frango (era fatiado, como frios) e pepino e um muffin. Também recebi lenços umedecidos e guardanapo. Comi apenas o pão e tomei um copo de suco quando a moça passou com as bebidas. Não tirei foto dessa vez porque não tinha pego meu celular antes e não tinha espaço para fazer isso depois de receber a bandeja.

Mais tarde, tentei conectar meu fone na minha poltrona, mas ela não estava funcionando, então pedi pra conectar na poltrona da moça ao meu lado, já que as telas eram compartilhadas. Estava passando um filme com aqueles pinguins de Madagascar legendado, então eu tentei assistir. Acontece que tinha um monte de cabelo loiro atrapalhando a minha visão (o cara era muito alto) e eu desisti do filme, colocando numa rádio. Adormeci ouvindo música e acordei faltando meia hora para chegarmos.

Dessa vez eu estava atenta quando aterrissamos. Foi incrível ver as nuvens tornando-se terra firme e sentir a aterrissagem olhando para o lado de fora. Nós chegamos exatamente às 11h20 em Cape Town, como esperado.








 No aeroporto em Cape Town

Minhas malas demoraram bastante pra chegar, mas dessa vez eu tive que ser rápida, pois elas vieram coladinhas uma na outra e eu tive que pegar cada uma com uma mão (menina forte). Coloquei as malas no carrinho e me dirigi para a saída.

Do lado de fora do desembarque, havia muitas pessoas com placas, mas eu não encontrei meu tranfer. Dei uma volta pela área, procurando e então fui até o balcão de informações. Disse para a moça que não conseguia encontrar a pessoa com a placa da minha escola. Ela perguntou se eu tinha vindo de um voo doméstico ou internacional e então disse para eu procurar a pessoa na área de desembarque dos voos domésticos. Eu me dirigi até lá e era exatamente onde eu estava antes, mas ela foi muito gentil comigo e me disse também que se eu não encontrasse ninguém eu poderia voltar até ela e então ela ligaria para os números que eu tinha. E disse tudo isso bem devagar. Chegando lá, meu transfer chegou do meu lado, instantes depois HAHA. Foi o Ricardo que foi me buscar. Eu pedi uma foto, ele pegou minhas malas e então fomos até o carro. Ele disse que podia perceber que eu não falava muito, mas isso não me abalou porque eu sabia que iria melhorar logo.

Ricardo
Eu havia esquecido que aqui a mão de direção é do outro lado e quase entrei na porta do motorista. O carro do Ricardo era muito bonito. Ele conversou comigo e me mostrou a cidade, enquanto eu tirava fotos no caminho.


No caminho - Lion's Head

No caminho

No caminho


No caminho - Table Mountain

Cheguei no apartamento por volta das 13h e foi recepcionada pela Erika, minha colega de quarto. Havia alguns amigos da Erika em casa, além dos moradores. Ela me mostrou nosso quarto, me deu as chaves da casa e disse que daqui duas semanas vai se mudar, então vou ficar sozinha.No nosso apartamento moram quatro pessoa: a Erika e a Marilyne, que são de Gabon e o Lion e eu, do Brasil.

Frente do condomíno

Depois que eu me instalei, liguei o computador para avisar minha família que eu já estava aqui, então elas me acompanharam para comprar um chip e por crédito no celular. Liguei para uma delas para podermos ter meu número e mandei uma mensagem para a minha mãe. Voltamos para casa e elas me ajudaram a contratar internet**.

Contei para elas que gostaria de conhecer a loja Mr. Price, então elas (Erika e Marilyne), muito prestativas, foram caminhando comigo até lá. Incrivelmente, a maioria dos estabelecimentos funcionam aos domingos. Até agora só sei que os bancos não abrem. Ainda assim, a Mr. Price só funciona pela manhã nos domingos e voltamos sem entrar na loja.

Um fato curioso: as meninas me contaram que os sul africanos têm um grande preconceito com os "mulatos". Elas me alertaram quanto ao mau olhar de brancos e negros pela cor da minha pele. Recomendaram-me dizer que sou brasileira e não sul africana se eu me sentir acoada. Até agora não passei por nenhuma situação como essa. Não sei mesmo se ocorre.

No caminho, paramos no KFC, pois eu não tinha comido nada desde o voo. Foi minha primeira compra diretamente com o atendente e eu tive alguns probleminhas. Primeiro porque tinha esquecido o significado da palavra "flavour" (sabor) e depois porque tinha feito a conta errada e pensei que ela estava me cobrando a mais do que deveria HAHA. Mas a Marilyne me ajudou e no fim deu tudo certo. Quando estávamos prestes a entrar, um morador de rua abordou a Erika e quando ela disse que não tinha nada para dar, ele avançou sobre ela. Um guarda chamou a atenção dele e então ela entrou na loja com a gente. Na saída ele tentou agarrá-la de novo então ela gritou com ele e alguns meninos chamaram a atenção dele. Isso foi muito assustador.

Chegando em casa, pude comer, depois de muitas horas, tomei um banho e sentei para escrever o outro post pra vocês. Eu estava muito afim de dormir, pois minha noite no primeiro voo tinha sido terrível, mas a Erika, sabendo que eu precisava fazer compras, não me deixou. Nós íamos fazer compras na volta do Mr. Price, mas eu precisava muito comer. Então, depois que eu terminei de escrever, enquanto esperava elas se aprontarem, desfiz minhas malas, ocupando o armário e os espaços aos quais eu tinha direito. Ficou tudo muito aconchegante *-*.

Comida do KFC
Fomos então ao Checkers, um supermercado bem em frente ao condomínio onde estamos morando (Regent Road - Sea Point). Comprei arroz, óleo, cebola, alho, queijo, achocolatado, leite, cereais, maçãs, kiwis, limão, alface, molho para salada, yogurt, sopas de sachê, frango temperado e suco. Algumas coisas como sal, açúcar e pão, as meninas se propuseram a me dar o que já tinham. Na volta, fiz uma sopa e comi o frango do KFC que não tinha comido no almoço. Então pude me preparar pra dormir. Eu não estava me aguentando de cansaço da viagem e de ansiedade para o primeiro dia na escola. Acho que fui dormir por volta das 23h ou 22h.

Foi um ótimo primeiro dia. As meninas disseram que eu falo bem, apesar de eu perceber que estava falando bem pausadamente. É muito bom conviver com pessoas de outro lugar que estão aprendendo inglês. Elas se ajudam o tempo inteiro na construção de frases, apesar de conversarem entre si sempre em francês! Lion e eu falamos só um pouco em português, mas nem ele nem eu queremos perder nosso tempo aqui. Então usamos nossa língua a nosso favor: somente quando precisamos de ajuda para falar o inglês melhor, pois é bem mais fácil quando a outra pessoa sabe do que você tá falando.

Continuem acompanhando :)

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*Tradução livre: "Mesmo? Você fala muito bem!"
**Pretendo fazer um post no final da semana com a descrição dos gastos.

Nota: Dois dias falando a maior parte do tempo em inglês e eu já começo a querer escrever em #portinglish HAHA. Quase escrevi frases como: "Fomos abordadas por um funcionário who..." e "Demorei muito tempo pra processar this."

Origem: São Paulo - Brasil
Destino: Cidade do Cabo - África do Sul
Dias para voltar pra casa: 27

3 comentários:

  1. meu coração ta apertado de inveja hahaha aproveita e volta falando muuuito inglês minha mulatinha rs <3

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  2. Oi, Lua!
    Vi seu blog no grupo de brasileiro na África do Sul.
    Muito legal saber como foi o desembarque em joanesburgo, é uma das minhas preocupações.
    Também sou "mulata" e tenho receio de sofrer preconceitos. Mas uma dica: se te olharem feio, olhe mais feio ainda pra eles! hahahaha :)

    Até quando você fica aí? Eu vou dia 14/02.
    Beijos e parabéns pelo blog.

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